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Jónatas Pires regressa a solo com o single “Eu Só Preciso”
“Eu Só Preciso” assinala o regresso de Jónatas Pires às canções, como tiro de partida para um disco prometido. Inspirada nos deambulantes dos subúrbios da vida e a bater o pé às palavras que Alfredo Duarte imortalizou na voz de Amália, esta primeira amostra é uma prova de vida que se desfruta à prova de esforço.
Num ano em que passou a ser essencial acreditar que viver é possível, esta estreia em nome próprio procura lembrar cada ouvinte de que a possibilidade de renascer para a vida supera a inevitabilidade das trevas.
“Eu Só Preciso” foi gravado entre sessões caseiras e no Estúdio Vale de Lobos por João Eleutério, também responsável pelas misturas. A produção foi da responsabilidade de Silas Ferreira, cúmplice de Jónatas Pires n’Os Pontos Negros e noutras aventuras.
Confesso que roubei este aforismo ao José Tolentino Mendonça: só quem chora tem sede da vida. Nos últimos anos, cruzei-me com muita gente que, de tão fustigada pelo infortúnio, ficou sem água para regar uma lágrima que fosse. Por isso, não deixa de ser irónico que, quanto mais árido está o nosso interior, menos sede haja em nós, até ao ponto em que aceitar um copo de água soe a um atentado que ofende os nossos interesses.
Esta canção é, para mim, a primeira gota. A primeira ceia. O primeiro mergulho depois do inverno. Aquele momento em que a esperança se sobrepõe ao desajuste. Em que somos repescados depois da desqualificação por falsa partida e, afinal, ao longe há a promessa de uma meta. Se para quem a ouvir ela for a décima parte de alguma destas coisas, então sou grato e terá, assim cumprido o seu desígnio.
Jónatas Pires
Simultaneamente, é também estreado o teledisco de “Eu Só Preciso”. A produção da Litoral Filmes contou com realização de Tiago Brito e direcção de fotografia de David Caetano. Para o realizador, “o conceito da procura de uma prova física ou visual de que se está de facto vivo, originou a narrativa em que seguimos o Jónatas na procura pelo sítio onde poderá ter sido enterrado. Uma prospecção para encontrar vida, que culmina em aberto e ilustra o mote principal da canção: “eu só preciso de acreditar que estou vivo””.
SOBRE JÓNATAS PIRES:
Entre a vitória dos Nevada no Festival da Canção e a queda do Muro de Berlim, Jónatas Pires nasceu algures na bacia do Tejo e viveu como saltimbanco nos subúrbios lisboetas até herdar um palacete em ruínas de uma viúva com quem manteve uma breve relação de relativa cordialidade e alguma desconfiança. Revelado ao grande público como um dos compositores d’Os Pontos Negros, banda-bandeira da renovação do roque cantado em português nascida no seio da FlorCaveira, que tomou o país de assalto e gerou paixão e discórdia na mesma medida.
Ao longo dos seis anos passados na estrada com a banda que fundou na adolescência, marcados por muito suor, quatro álbuns editados e muitas dezenas de concertos entre os maiores festivais e as caves e boîtes mais recônditas de Portugal, as composições de Jónatas Pires destacaram-se sempre pelo amor à baixa-fidelidade do rock’n’roll e do punk, a alta-fidelidade à língua portuguesa e a queda por melodias afiadas e apontadas ao coração.
Depois de um hiato em que se dedicou ao ensemble de Samuel Úria e à mentoria da iniciativa de cariz solidário Tudo É Vaidade, em que participaram variadíssimos músicos e amigos como Selma Uamusse, Benjamim, Domingos Coimbra, Manuel Palha e Tomás Wallenstein (Capitão Fausto), Gospel Collective, entre outros cúmplices de sempre, 2020 afigura-se como o ano do regresso à composição e ao lançamento em nome próprio.
Com um álbum com edição Sony Music Portugal agendado para breve, o single Eu Só Preciso é uma amostra da maturidade e da riqueza das canções que irão marcar esta próxima etapa.