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Carminho lança novo álbum

Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir é o álbum mais arrojado de Carminho desde que começou a sua carreira artística. No sétimo disco, Carminho continua o trabalho como compositora, assinando 8 das 11 faixas. Produzido pela própria artista e lançado pela Sony Music, o disco foi gravado em Lisboa e chega nesta sexta-feira, 10, em Vinil e CD e a todas as plataformas de streaming.

A grande voz do fado, como é reconhecida pela interpretação intensa e a capacidade de inovar no género, Carminho percorre os caminhos da alma humana, que congrega vários sentimentos ambíguos. Essa ambiguidade fica clara logo no título do álbum. “Morre-se muito de amor no fado, mas poder resistir é algo que me interessa e me interessa cantar”, diz ela. “Neste trabalho, fui muito inspirada pela mulher, pela ideia de que a mulher ocupa um lugar central como intérprete, mas que existem muitas narrativas paralelas, mesmo ambíguas, dentro da própria mulher”, acrescenta.

O álbum tem suas raízes no fado, mas incorpora elementos da música experimental e revela-se abertamente feminista. A presença das mulheres, por sinal, é notável em todo o trabalho. A começar pela participação especial da ícone norte-americana Laurie Anderson na faixa “Saber”, em que faz um contraponto à voz de Carminho, sussurrando a letra da canção em inglês.

A fadista musicou versos da poeta experimental portuguesa Ana Hatherly (1929-2015), na fase mais lírica e reflexiva da autora. “Saber / é saber saber-te / Sabermo-nos unir / unirmo-nos é conhecermo-nos / sabermos ser / Por fim sermos / é sabermos”.

Ana Hatherly assina também o poema de abertura do disco, “Balada do país que dói”, com música original de Carminho. “O barco vai, o barco vem / português vai, português vem / O país cai, o país dói / O tempo vai / o tempo dói”, diz a letra da canção. O jogo de palavras é reforçado pelo arranjo sensível, que combina a voz de Carminho com guitarra portuguesa e elétrica, mellotron e viola de fado. Na faixa, a cantora também assume o comando do Vocoder – instrumento que modula e sintetiza a voz humana.


Carminho encontrou inspiração múltiplas para este álbum. Desde os conjuntos de guitarras portuguesas de Raúl Nery ou Martinho d’ Assunção, às grandes vozes de Maria Teresa de Noronha, Beatriz da Conceição e Teresa Siqueira (sua mãe). Para além de outras mulheres de presença marcante no cenário musical como Wendy Carlos e Annette Peacock, ambas pioneiras na música eletrônica desde os anos 1960.


Segundo Nuno Crespo
, crítico de arte:

“Eu vou morrer de amor ou resistir” é o novo disco de Carminho no qual se dá forma à necessidade da artista em experimentar novas palavras, novas sonoridades e texturas, novos instrumentos e testar os limites do género artístico que escolheu para si: o fado. Uma necessidade que é, antes de mais, uma inquietação que a impede de repetir fórmulas e a lança num processo de pensamento e fabricação muito próprio de fazer fado. Um processo a que Carminho chama uma prática. E esta prática, ou se quiserem este exercício que Carminho torna infinito, não só expande o campo daquilo que entendemos como fado, mas também o da própria música ao misturar elementos heterogéneos e de práticas musicais muito diferentes como o rock ou a música electrónica.

Sendo o fado um género artístico que, desde a sua origem, está em permanente mutação às mãos dos seus intérpretes e compositores, as transformações que Carminho provoca, e que neste disco são particularmente ousadas e expressivas, pertencem à natureza própria deste género musical: um estilo instável que vai encontrando diferentes formulações (sempre provisórias) nas mãos dos seus diferentes fazedores.”