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Capa do novo single, "AFRIKA", de Prodígio

Prodígio apresenta AFRIKA

Das cinzas da pessoa mais importante da vida de Prodígio, o pai Domingos, nascia AFRIKA, primeiro avanço de King2da, álbum imaginado para o pré-Covid que o luto adiou, mas não em definitivo, e que ainda este ano põe fim a uma maratona de oito discos. Trata-se de um single poderosíssimo, carregado de simbolismo familiar e não só, que parte do saber familiar para reatar um debate tão urgente como silenciado sobre o que é isso de ser negro. “Volta para a tua terra, mas tu nasceste na Amadora” é uma das muitas perplexidades levantadas por Prodígio nos seus versos.

Prodígio ficou a saber através do irmão, da existência de vozes inéditas do pai, um mês depois de o ter perdido durante a pandemia. “Ninguém tem o direito de usar estas vozes senão tu, pelo que representavas para o pai”, assegurou-lhe Nilton Moniz.

Porém, a história de AFRIKA começa um pouco mais atrás. Em Ser Negro, de 2000, Gutto já colocava uma série de questões incómodas. “São séculos de luta contra a mentalização/Lavagens cerebrais e constantes exploração/É nascer em Africa e Africa não conhecer”, constatava então o pioneiro do r&b em Portugal. Inspirado por essa canção tão esquecida como atual, Prodígio diz-nos que é preciso que tudo mude para que fique na mesma, relembrando a escravatura e o holocausto para chegar ao Black Lives Matter, e desabafar que “todo o preto é um Bruno Candé”.

AFRIKA é unida por laços familiares indestrutíveis. Os escritos são de Prodígio, o lamento do refrão do pai Domingos e a produção do irmão Nilton, a que se junta ainda um coro religioso para ampliar a dimensão espiritual da canção. Porém, “mais do que um grito de revolta, é uma chamada de atenção”, realça Prodígio. E uma reflexão. Ser africano é apenas ser um ser humano.